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Moda

O que tem mudado na moda para mulheres curvilíneas e plus size?

Agora que voltei com o blog preciso dizer, para quem não me acompanha há mais tempo, que eu AMO quando o tema do post exige pesquisa e mergulha mais fundo na história da moda. Como sempre fui aquela aluna que amava as aulas de história e que repetia o clichê “se você não entender o passado, não irá entender o presente”, vivo nesses momentos minha realização de historiadora e socióloga que não sou, rs.

No post de hoje o debate não – exatamente – faz parte da minha experiência, sei que ocupo um espaço privilegiado no que tange a padrão de corpo, mas me coloco de maneira empática às histórias de muitas outras mulheres que sofreram e sofrem com a pressão de um corpo perfeito. Minha relação com moda sempre foi pensada para levar autoestima e desmistificar esses conceitos. Por isso, peço licença amigas para discorrer sobre como a moda trata mulheres gordas / Plus size / curvilíneas… o termo é semântica para dizer a mesma coisa: fora do que inventaram ser padrão.

800px Mona Lisa by Leonardo da Vinci from C2RMF retouched

Monalisa não era exatamente uma mulher magra né? No entanto foi a grande musa de DaVinci.

Sabemos que lá atrás, pelo menos até o século XVIII, a mulher tinha corpo de MULHER, de adulta. Os quadros pintados retratavam bochechas rosadas e pernas torneadas, quadris largos… aquilo ali significava uma mulher forte e capaz de parir seus filhos e cuidar da casa.

De acordo com o historiador e professor João Braga, nos nos anos 1960, quando os jovens começaram a ditar o padrão de beleza, muita gente não conseguia tais medidas. “O cinema começou a impor tal silhueta e, em seguida, com a modelo Twiggy e Mary Quant, que difundiu a minissaia, começou-se a ditadura da magreza… Nos anos 1950, os padrões eram de adultos, com corpo mais rechonchudo. Já os jovens têm a anatomia mais enxuta e quando a geração baby boom, concebida appos a Segunda Guerra, começou a se impor na sociedade, estabeleceu-se esta silhueta como sendo a normal.”

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(Getty Images)

De lá pra cá conhecemos a história, vivemos décadas de muita pressão sobre as mulheres. Concursos de miss na TV aberta onde as meninas eram medidas ao vivo e descartas por 2cm… hoje penso nisso e me pergunto como não enxergávamos que era absurdo?!

Infelizmente, mais uma vez, o fato por trás disso é apenas um: DINHEIRO. O capitalismo precisa gerar consumo, desejo e aspirações constantes nas pessoas. Marcas precisam que pessoas sonhem com seus produtos e vão investir em modelos e anúncios que comuniquem isso.

De acordo com uma entrevista concedida ao Estadão, Brookie Erin Duffy, professora da Universidade Cornell especializada em estudos da mídia feminista e cultura do consumo diz que “Beleza implica imaginar onde você pode estar no futuro. É você se imaginar parecendo-se como uma celebridade ou modelo. É essa promessa de recompensa futura que gera a procura.” Ou seja, é sempre uma busca por algo que NÃO SOMOS. Brookie também fala da importância e peso que a propaganda traz para esse cenário de exclusão: “Em uma sociedade racista, como a brasileira, americana e europeia, as marcas não acreditam que serão capazes de gerar desejo de compra com modelos negras, e, ao mesmo tempo, não se preocupam em se identificar com homens e mulheres negras, pois não acreditam que esse é seu público alvo.”

mulher gorda moda

O mais louco é que Brookie diz que esse conceito nasce junto com o conceito de classe nos anos 1920, quando a cultura de consumo americana e o ramo de modelos cresceram simultaneamente. Enquanto alguns elementos desse ideal de beleza mudaram com o tempo, o padrão de corpo permanece o mesmo. Aqui vale voltarmos no post que eu dei de dica de série e assistir SELF MADE e observar como a história de Madame C.J Walker nos coloca nesse cenário dos anos 20 onde mulheres negras lutavam para serem vistas pela indústria da beleza. A beleza fora do padrão sempre foi excluída.

história da moda plus size e

campanha da Lane Bryant de 2017 com mulheres plus size. A marca criada em 1904 focada no empoderamento feminino.

Hoje existem agências especializadas em modelos plus size e a gente já vê com mais frequência, campanhas de beleza e moda mostrando diferentes tipos de corpo. A internet tem tido grande contribuição para essa mudança, já que as novas gerações crescem com esses conceitos já ultrapassados e pedem por identificação com as marcas. E como eu disse ali em cima, tudo é questão de dinheiro… se as marcas perceberem que os clientes exigem um comportamento diferente e estão deixando de comprar, rapidamente suas campanhas ganharão novos rostos, corpos e as revistas passarão a publicar mulheres reais e diversas em seus editoriais.

Ainda não é um caminho fácil, eu sei pois converso diariamente com mulheres e vejo suas dificuldades em acharem roupas bonitas fora do padrão de manequim que vai até 0 48/52.  Aqui no Brasil estamos engatinhando… mas vale citar que o Blog Mulherão fez nascer o primeiro evento de moda plus size do país, o Fashion Weekend Plus Size, encabeçado pela Renata Poskus. Vale super a pena acompanhá-la e ver o que tem sido feito em termos de moda, inclusive ela criou sua própria marca e tem peças bem coloridas, divertidas e criativas… uma coisa meio Farm.

Abaixo quero deixar uma pequena lista de perfis que eu sigo e acompanhar, de mulheres reais que falam de Body positive sem medo de se expor. Acredito que boa parte da mudança que precisamos ver está dentro de nós, mudando o que consumimos de conteúdo. Busque seus semelhantes, quem entende sua dor, e a internet passará a ser um espaço mais leve e feliz!

@marcimarciano

@letticia.munniz

@carla_mortiz

@jesoliverdamata

@manusousablog

@alexandrismos – ela inclusive tem um livro bem interessante sobre o tema, você pode encontrá-lo aqui.

Imagens: Reprodução

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